Marie Bartz

Nos dias 3, 4 e 5 de agosto/22 realizou-se, na Colônia Friesland, Departamento de San Pedro no Paraguai, o Encontro Nacional de Plantio Direto (Encuentro Nacional de Siembra Directa) com a temática “50 anos de Plantio Direto na América Latina, o caminho para a produção sustentável de alimentos”. Líderes e representantes do setor agropecuário, após discussões sobre as temáticas do evento, decidiram escrever uma carta que externa os desafios e o compromisso de todos em prol de otimizarmos o sistema plantio direto.
A Carta de Colônia Friesland, que já vem sendo divulgada entre os países do Cone Sul e do mundo, declara o seguinte:
“Os abaixo assinados concordam em ser fiéis participantes e impulsionadores da transformação do plantio direto, que ocupa 99% da agricultura no Paraguai em sistema plantio direto, onde a força motriz desse processo é a biologia do solo. Esta vida, que possui o carbono como sua fonte de energia, deve basear-se nos pilares da mínima mobilização do solo, rotação e diversificação de culturas e raízes com manutenção permanente da cobertura do solo, resultando em um solo protegido, conservado, resiliente e equilibrado em todos os aspectos físicos, químicos e biológicos.
Valorizamos o conhecimento que empiricamente vem da curiosidade e da experiência de produtores e técnicos, resultando em pesquisas acadêmicas, gerando inovações tecnológicas para aprimorar as técnicas de produção. Tudo isso é impossível sem uma mente aberta, o que nos obriga a mudar a visão reducionista do solo com o uso exclusivo dos produtos para uma visão holística, não apenas como retorno econômico, mas sim para conviver com ele, como entidade que contém a vida e é essencial para o funcionamento do ecossistema.
Sabemos que as mudanças são individuais; mesmo assim, a visão de equipe unida nos leva a um pensamento coletivo de longo prazo baseado no senso comum básico com repercussão global. Consideramos o sistema plantio direto como a forma de produzir alimentos em harmonia com a natureza, com uma história que deve ser registrada e conhecida por todos os setores do Paraguai, da região e do mundo, sejam eles primários, secundários e terciários, de tal forma que a transversalidade do fator solo seja perceptível em qualquer atividade desenvolvida. Como base para isso, vemos como fundamental o ensino desde cedo sobre a realidade do campo.
Acreditamos fielmente que não existem receitas prontas, mas os princípios básicos que devemos adaptar e adotar para cada situação particular. Não há milagres na natureza; a própria natureza é um milagre. O sucesso que teremos está relacionado com esforço, criatividade e persistência que aplicamos por unidade de trabalho.
Por fim, submetemos essa carta a uma revisão permanente, a fim de buscar uma atualização constante para atingir os altos objetivos no caminho da produção sustentável de alimentos para o mundo. Colônia Friesland, 5 de agosto de 2022”.
A Carta de Colônia Friesland é assinada pelas federações e pelas associações de agricultores do sistema plantio direto do Paraguai, a Fepasidias, presidida por Martín Cubilla; do Brasil, a Febrapdp, presidida por Jônadan Ma; da Argentina, Aapresid, presidida por David Roggero; do Uruguai, a Ausid, presidida por Luciano Dabala, e do México, a Amlc, presidida por Juan Manuel Osório e chancelada pela entidade mãe de toda a Confederação das Associações Americanas para uma Agricultura Sustentável (Caapas), presidida por Jonâdan Ma. Apesar de a carta se referir ao Paraguai, entende-se que as questões e os desafios declarados são comuns a todos os países que pretendem fortalecer a união para que se estabeleça o real sistema plantio direto.