As mulheres têm mais sensibilidade; e necessitamos de uma comunicação sensível que mostre a realidade da produção brasileira
Glauber Silveira
Eu tive o privilégio de ser convidado a palestrar no Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), em sua sétima edição. O evento foi um sucesso total. Mais de 2.5 mil mulheres se fizeram presente, mulheres de todo o país que foram em busca de conhecimento e de relacionamento, mulheres de todas as idades e de atividades diversas. Os estandes das empresas estavam lotados. Eu realmente fiquei impressionado. Só vi algo assim nos EUA em eventos das grandes associações.
O que mais me chama a atenção é o fato de que o evento não foi lançado por nenhuma entidade representativa de classe e, sim, por uma empresa que busca realizar eventos e faturar. Assim como outras que vivem disso, realizar eventos. Nada de demérito, afinal viram uma oportunidade e lançaram algo que atraiu a ala feminina do agro. E esse movimento só cresce.
Eu conversei com algumas mulheres que considero referências de liderança do agronegócio e perguntei por que elas não participavam. Todas foram categóricas em me dizer que não concordam com um evento segmentado, que elas não são cota da sociedade, elas são produtoras que nada têm de inferior a homens. Muito pelo contrário, são melhores no que fazem que a maioria. Por isso, elas disseram que o que acompanharam de início acharam muito berçário e elas já estão na faculdade.
No aprofundamento do debate com essas mulheres com quem falei, elas disseram que deveria ser feito, sim, um evento para a família no modelo do feito pelas associações americanas, onde a discussão é de alto nível e focada no negócio. Dizem “eu não quero ir a um evento só de mulheres, assim como não há eventos só para homens. O que ocorria é que, na maioria dos eventos, só iam os homens porque nós, mulheres, não havíamos ocupado nosso espaço. Hoje, estamos presentes nas entidades, na política, em todos os setores. Temos muito que avançar, mas queremos avançar em igual terreno e não em um segmentado”, dizem.
Por outro lado, conversei com jornalistas e lideranças que disseram do quanto têm observado a contribuição de eventos focados no público feminino, onde elas debatem, podem ver modelos de liderança feminina, mulheres que se superaram e hoje são um exemplo de liderança. Creio que, ao ver esses exemplos, sem sombra de dúvida, muitas mulheres têm em quem se espelhar e também têm uma referência feminina que as auxilie a romper preconceitos, dificuldades e desafios que a diferença masculina e feminina traz.
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Eu apenas esperava ver mais mulheres palestrando. Podem até dizer que, em edições anteriores, elas estavam lá, mas, sinceramente, foram 23 palestrantes homens e 25 mulheres, isso porque quatro delas fizeram papel de mediar ou apresentar. Sendo assim, houve mais homens palestrando que mulheres. Eu realmente acho que se o foco é mostrar a liderança das mulheres e agregar à liderança das mulheres, deveriam ter lá – quando muito – dois ou três homens. Nas entidades, empresas do agro e nas fazendas, há centenas de mulheres líderes, com um belo exemplo de superação, desafio e liderança para mostrar.
O que foi notório na fala de todos é a importância do agronegócio brasileiro para o mundo, o quanto o mundo depende do crescimento dessa produção nos próximos anos. Não importa a cadeia, todas precisam crescer muito nos próximos 20 anos. Apenas no milho precisamos passar de 120 milhões de toneladas para 360 milhões: um grande desafio. O Brasil, por um lado, tem a responsabilidade de produzir e, por outro, de preservar. Nesse ponto, ficou clara a importância do papel da mulher para equilibrar e dar sustentabilidade à produção. As mulheres têm mais sensibilidade; e necessitamos de uma comunicação sensível que mostre a realidade da produção brasileira.
Eu acredito no futuro do Brasil. Temos tudo para ser uma grande nação produtora de alimentos e com créditos ambientais por tudo aquilo que preservamos, pela produção carbono zero que temos. Tenho dito que, se o Estado não atrapalhar, tudo dará certo, pois o agro é formado por famílias, pessoas comprometidas com a produção e com a sustentabilidade. E as mulheres são o alicerce disso tudo.










