O mercado global de café depende do quanto o Brasil vai colher. O País é o maior produtor e exportador mundial do grão. “O grande determinante do mercado de café em 2022 é o tamanho da próxima safra brasileira”, resume o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach.
A seca, particularmente entre os meses de abril e maio, seguida pela geada em julho reduziram o potencial da safra brasileira 2022. No entanto, a volta das chuvas em outubro induziu boas floradas e animou tanto produtores como compradores.
Arábica
Barabach comenta que a ideia entre os tradings no pós-florada era de uma safra de arábica entre 38 a 40 milhões de sacas. Ou seja, uma queda de 10 a 12 milhões de sacas em comparação ao último ciclo de carga alta (safra recorde de 2020). Naquele ano, o Brasil colheu 50 milhões de sacas de arábica.
Por outro lado, o aumento na produção de robusta, estimada entre 23 a 25 milhões de sacas, deve compensar, em parte, a diminuição no potencial do arábica. “Com isso, a ideia inicial é de uma safra brasileira 2022 entre 61 a 65 milhões de sacas”, estima.
Abortamento

Mas, pondera Barabach, os registros de abortamento acabaram colocando em xeque essa melhora no ânimo. Produtores, particularmente, duvidam que as lavouras alcancem tal potencial. Um sinal mais claro já deve surgir logo neste início de ano.
O fato é que o mercado ainda não precificou essa quebra acima do esperado para a próxima safra brasileira, segundo o consultor. Se confirmada, há sim espaço para uma nova investida de alta na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização internacional.
“Já a confirmação do cenário produtivo anterior permite uma ligeira acomodação na curva de preço, especialmente com o avanço da oferta de café novo no Brasil. É bom lembrar que o preço do café acumulou ganho de mais de 70% em 2021, antecipando em parte esse cenário produtivo.”
Oferta

Em linhas gerais, para Barabach, a expectativa é de um 2022 com oferta apertada, diante da perda de potencial da safra no Brasil. A demanda deve seguir arrastada.
“Apesar da melhora no fluxo, as indústrias ainda devem sofrer um pouco com o custo logístico. Sem falar de novos efeitos causados por eventuais restrições por conta das variantes da Covid-19, especialmente nos primeiros meses de 2022”, acredita.
O arábica deve seguir valorizado em relação ao robusta. O que implica em uma postura mais flexível no blend por parte das indústrias, especialmente aqui no Brasil.
Dólar
Em relação ao câmbio, Barabach crê que o dólar tende a seguir volátil, mas firme. O que favorece os preços do café em moeda local.
“Além da mudança da política monetária do Fed (Banco Central dos EUA), que ajuda a fortalecer a moeda norte-americana, o pessimismo interno explica esse cenário cambial mais carrancudo para o real.”
Entretanto, pondera que qualquer surpresa positiva em 2022 pode atenuar essa lógica e permitir um realinhamento mais significativo do real. “O dólar continua muito valorizado em relação ao real, esperando algum sinal para uma correção mais significativa”, resume.
Quanto ao segundo semestre, o consultor sugere uma atenção especial com as floradas da safra brasileira 2023. “Se trouxerem uma resposta produtiva positiva, isso pode mexer com os preços de forma mais significativa”, finaliza.