Como lucrar no mundo VUCA?

Coluna Na Varanda, escrita por Francisco Vila, economista e consultor internacional

Temos de gerenciar o negócio num ambiente cada vez mais imprevisível. Vale a pena estudar os relatórios do encontro anual de milhares de executivos globais no World Economic Forum de Davos, na Suíça. Não é por acaso que o título da publicação é Global Risk Report. Perante esse debate sobre incertezas, voltaremos a falar sobre o conceito VUCA. Na sigla, em inglês, trata-se de uma combinação de 4 elementos que se influenciam mutuamente. O “V” da Volatilidade representa a velocidade das mudanças, que está sendo complicada ainda mais pelo “U” da Incerteza, sobre o caminho adequado na, cada vez maior, Complexidade do “C” que, por sua vez, aumenta o “A” da Ambiguidade na interpretação de cenários.

O lucro é resultado de um grande número de fatores, tais como custos e preços, além das opções quase infinitas de aplicação de tecnologias adequadas à realidade da fazenda. Essa seria formada pelos seguintes fatores: localização geográfica (custo de transporte), topografia (valor e uso da terra), solo, pasto, infraestrutura da fazenda, máquinas, custos de insumos, preço dos produtos do agro e da pecuária e o mais importante: os processos adotados, bem como a eficiência da equipe. Se isso, no passado, já requeria uma visão de 360º graus, podemos imaginar o desafio de navegar com alguma probabilidade de sucesso no referido Mundo VUCA!

Somente olhando para o preço da ‘carne prime’ na gôndola do supermercado, podemos confirmar que falamos de um ‘produto de luxo’. A redução de consumo per capita dos brasileiros, que caiu de 39 kg em 1996 para 25 kg em 2022, é indício claro de que deve haver um conjunto de fatores que explicam essa queda. Certamente, não houve desinteresse do consumidor por esse alimento delicioso. Então, devemos buscar outros motivos. A combinação do aumento do preço com a mudança das prioridades no perfil dos gastos familiares deve ser considerada a principal explicação. Aqui vai um exemplo: entre comprar um smartphone novo para o filho ou buscar a carne para o churrasco do final da semana, muitos pais mostraram uma crescente tendência para o atendimento do pedido do filho. Trata-se da chamada concorrência transversal. 

Entretanto, existem outros fatores como o aumento das exportações de carne de qualidade, com uma média de 20% ao longo dos últimos anos, que provocou o pulo no preço do produto. Antes da porteira, o salto dos preços, desde os fertilizantes até os combustíveis e o milho (cada vez mais exportados ou transformados em metanol), dificulta o cálculo exato da margem de lucro. Incertezas como a guerra na Ucrânia, efeitos da pandemia na China, bem como os crescentes problemas na logística e nas cadeias internacionais de produção em geral aumentam o cenário da Incerteza. Tudo isso é veneno para um planejamento estratégico seguro. Aves e suínos podem reagir com maior flexibilidade e velocidade, motivo pelo qual ocupam parcela crescente do tradicional mercado da carne bovina.

E, como se não bastasse, o aumento do risco em torno da realidade VUCA, acrescentado pela sinalização de uma eventual maior tributação da produção rural, além da redefinição das prioridades do financiamento do setor agropecuário, dificultam uma programação racional. Diante desse cenário, voltamos a lembrar que aqueles pecuaristas focados mais na construção da margem do que apenas reagindo aos índices de custos e preços terão oportunidades de crescimento, aproveitando o abandono de muitos produtores de porte médio semi-tecnificados que ocorrerá ao longo dos próximos anos. A combinação de produtividade com o foco na lucratividade requer conhecimentos e habilidades que precisam ser constantemente aperfeiçoados. Não deixe de reservar um tempo para sua atualização e aumente os esforços no treinamento da equipe. Afinal, é a tecnologia – e não a terra ou o boi – que dá dinheiro!