Coluna Marie Bartz, escrita pela bióloga, Centro de Agricultura Regenerativa e Biológica e centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, em Portugal, e Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp), Marie Bartz.
Este mês teremos a honra de lhes contar um pouco da história de um de nossos pioneiros ‘dinossauros’: Franke Dijkstra que, junto com Papi (Herbert Bartz) e Nonô Pereira, teve um papel importante na difusão, na divulgação e no estabelecimento do sistema plantio direto no Brasil. E, como de praxe, para validar e complementar o que escrevo sobre o homenageado, neste mês de abril, o filho de Franke, Richard Dijkstra, estará me auxiliando.
A família Dijkstra, de origem holandesa e criadora de gado leiteiro, imigrou para o Brasil em 1947, fugindo da devastação deixada pela 2ª Guerra Mundial. Dijkstra tinha apenas cinco anos quando fez a longa viagem de navio, cuja duração foi de quase um mês. A família escolheu, na época, a Colônia Carambeí na Terra da Gralha Azul, no Paraná, para construir uma nova história no estrangeiro. Na região, já havia muitos holandeses estabelecidos, sendo que os primeiros chegaram ao Paraná em 1905.
“E foi junto a Nonô Pereira e Herbert Bartz, com a adoção do plantio direto, que esse trio teve a certeza de que este era o melhor modelo para preservar o solo“
Naquele tempo, a família trabalhava com um bom rebanho leiteiro. Quando vieram para cá, trouxeram, no navio vindo da Holanda, 40 novilhas e um touro, rebanho com o qual iniciaram as atividades na propriedade de 60 hectares em Carambeí. Aos 12 anos de idade, Dijsktra perdeu seu pai e acabou por ter que assumir a propriedade da família junto com os irmãos. A preocupação de Dijkstra com as perdas de solo devido à erosão começou a pesar mais nos anos 1970, obrigando-o a sair em busca de alternativas. E foi junto a Nonô Pereira e Herbert Bartz, com a adoção do plantio direto, que esse trio teve a certeza de que este era o melhor modelo para preservar o solo.
Richard faz questão de destacar: “A forma com que o pai, Nonô e Bartz se relacionavam era única. Eles eram muito próximos e se complementavam na verdade. Muitas vezes, a força de um era a fraqueza do outro. Era uma relação em que eles ajudavam um ao outro e se fortaleciam. Tanto que, quando eles estavam juntos, eles tinham uma força que era bonita e inspiradora de ver e acompanhar. Quem conviveu próximo aos três viu isso e sabe que os três, isoladamente, não teriam a força que tiveram quando juntos. Eu vi e vivi isso próximo ao meu pai, ao teu pai e ao Nonô. Era realmente bonito demais a forma como eles conviviam!”.
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O plantio direto tornou-se popular, no Brasil, na década de 1980. Era uma alternativa aos métodos de cultivo tradicionais com preparo do solo. A técnica, que evoluiu para o sistema plantio direto, ajuda a reduzir o custo de produção, a aumentar a produtividade das culturas e a preservar o meio ambiente.
A Fazenda Frankanna evoluiu e, atualmente, é um modelo de produção integrada em lavoura e pecuária. O arado é, agora, um objeto do passado, mas que permanece em exposição na fazenda da família como uma lembrança para não ser esquecido dos maus-tratos que este equipamento causa ao nosso patrimônio solo. A trajetória de Franke Dijkstra está registrada no livro intitulado “O Solo Ensinou”. Para Franke, ainda há muito a ser aprendido e, em muitas de suas entrevistas, afirma: “O Brasil pode dobrar a produção tranquilamente sem ter que mexer na Amazônia, disso eu tenho certeza. Para isso, você tem que investir em tecnologia”.
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Dijkstra já recebeu inúmeros reconhecimentos e distinções, como a “Honra do Mérito Científico”, recebida em Brasília, e a “Ordem do Pinheiro”, que é a mais alta honraria concedida pelo governo do Estado do Paraná, ambos pelo trabalho que desenvolveu com o plantio direto junto aos demais pioneiros. Também foi integrante-fundador e presidente da atual Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, onde atualmente possui o cargo permanente de diretor honorário. Mas o maior orgulho de Dijkstra é como esse seu legado tem sido passado de geração em geração… Hoje, o avô-pioneiro, o filho e os netos trabalham, juntos, na manutenção e no aprimoramento do sistema plantio direto; a quarta geração (bisnetos) já está engatinhando entre os campos para levar essa bandeira adiante.
A relação entre o pai, Nonô e Bartz era singular, uma vez que eles eram próximos e complementares. Suas forças e fraquezas equilibravam-se; eles se ajudavam mutuamente para se fortalecerem. Quando estavam juntos, eram capazes de gerar uma força notável. Aqueles que conviveram com os três reconhecem que, individualmente, eles não tinham a mesma força que possuíam quando unidos. Eu tive o privilégio de presenciar e experimentar essa convivência entre meu pai, o teu pai, Richard, e Nonô, e posso dizer que foi algo verdadeiramente inspirador!










