Coluna Prosa com Teia Fava, escrita pela pecuarista, empresária e diretora da Acrimat na Região Médio Araguaia, Teia Fava.

Outro dezembro e, com ele, seus desafios! Como mencionei no artigo passado, nossa IATF começou prontamente no dia 01 de novembro. Como fizemos a lição de casa direitinho neste ano, pudemos iniciar com animais apresentando estado corporal favorável para receber o diagnóstico de prenhes, se Deus quiser, em 35 dias aproximadamente.
Mas, como tudo na vida de um produtor rural não é tão fácil assim, vêm os novos problemas. Que coisa maluca! Estava tudo certinho. As chuvas deram mostras que haviam iniciado em tempo certo. Mês de setembro e ela deu as caras. Com pouco mais de 120 mm, poderíamos apostar que estávamos atrasados com o preparo das terras para receber as sementes de capim, pois, com 300 mm de “água no chão”, já daríamos início ao plantio, mas que nada! Ela se foi tão sorrateira como quando chegou. E ficamos sem chuvas significativas por longos 19 dias! E pior: num sol esturricante, como é o nosso do MT. Imaginem, então, como ficaram os pastos e, consequentemente, o gado sob essa dupla implacável: sol “brabo” e pasto recém-brotado, devido às (poucas) chuvas, e gado querendo comer; animais felizes, se entretendo com os brotinhos e nós, pecuaristas, desesperados com o fim da palhada!
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Claro que eles entraram num regime forçado. E todo o planejamento do início de ciclo de chuvas e de estação de monta foi por água abaixo!
É… eu sempre digo que quem nos vê no “alto de uma caminhonete”, não tem ideia do que passamos! Altos e baixos como em todas as profissões, claro, mas que acabam sendo nossa rotina; e nós ainda lutamos contra a instabilidade do setor. Variantes que não são criadas por nós, mas pelo mercado tanto externo quanto interno. Frigoríficos, mercado consumidor, preços de insumos que, em sua maioria, são tabelados pelo dólar que, claro, sofre variações. Ao subir, sobe tudo. Mas ao baixar… cadê que baixa para nós? Chuvas torrenciais nos EUA, forte seca, clima perfeito: tudo serve para modificar a estabilidade tanto financeira quanto emocional; tenha certeza, pois estamos sempre preocupados com o além de pagar as contas e que não são poucas; isso envolve pessoas também, alimentar o mundo – o que o Brasil tem feito com grande propriedade, conhecimento e sabedoria.
É lutar contra chuvas, contra sóis, pessoas, o sistema. Mas, como tudo tem o outro lado, temos a certeza de que, mesmo com tantas adversidades, somos verdadeiramente necessários.
Mas, seguimos fortes e cheios de esperança, como sempre, de que teremos dias melhores. Investimentos pesados para produzirmos mais, em menos terra, sempre. Luta contra um sistema que coloca na cabeça dos moradores “da cidade” que somos desmatadores, que somos vilões, que temos trabalho escravo em nossa propriedade, que, que, que…. e, nessa luta contra a maré, sempre damos conta de sair do sufoco. É lutar contra chuvas, contra sóis, pessoas, o sistema. Mas, como tudo tem o outro lado, temos a certeza de que, mesmo com tantas adversidades, somos verdadeiramente necessários.
Podemos dizer que todos nós somos, em sua maioria, vitoriosos! Juntos, todos os profissionais que compõem o agro são mestres em se reinventar.
Que possamos sempre estar colaborando para esse modelo de vida, essa forma de doação. Que consigamos mostrar a todos, brasileiros ou estrangeiros, que o nosso lema é sempre seguir adiante. Mesmo com as adversidades de tempo, de vida, de mudança de rota, de planejamento. Sempre com a perseverança dos vencedores. E, no alto de nossas caminhonetes, muitas vezes financiadas, que continuemos a produzir, a alimentar, a dar vida a todos os nossos irmãos – sejam eles merecedores ou não desse alimento. Afinal, o julgamento não está em nossas mãos, portanto não faz parte da nossa competência.
É o que sabemos fazer. Unidos sempre e num mesmo foco: PRODUÇÃO ALIMENTAR!